Archive for maio, 2009

Viveiro Inclusivo – Vale do Paraíba

sábado, maio 30th, 2009

Projeto Mata Atlântica – Plantar Superando Barreiras
“I Oficina de desenho do Viveiro Adaptado e da organização do espaço”

O CISAC – Centro de Inclusão Socioambiental do Cego em parceria com a Fundação Florestal e Viveiro Florestal de Pindamonhangaba realizou no dia 23 e 24 de abril de 2009 a “I Oficina de desenho do Viveiro Adaptado e da organização do espaço” tendo como eixo o Projeto” Mata Atlântica Plantar Superando Barreiras”. Foi realizado no Viveiro Florestal de Pindamonhangaba. Iniciou com a apresentação de todos os presentes em sua maioria cegos, pessoas de baixa visão e deficientes físicos, interessados na área e representantes locais e da comunidade.
As palestras aconteceram de forma vivencial, interativa e com experiência sensorial.
Iniciou com a EngenheiroFlorestal Alcinéia Guimarães de Castro do Instituto Florestal: “Viveiro de Produção de Mudas” onde tiveram a oportunidade de conhecer o processo de formação de um viveiro florestal, sentir e tocar várias espécies de plantas e sementes, orientação sobre o local, diálogos sobre o processo de formação de um viveiro, canteiros, o substrato, o trato com as espécies nativas, as sementes, identificações e formas de utilização.
O Ornitólogo Laércio Toledo Cortez, com a temática Observação da Fauna e a Inclusão Social dos Cegos, apresentou ângulos importantes do potencial turístico de observação de aves.
A Técnica em Inclusão, Prof. Ruth Souza Saleme apresentou “A Importância do Pensar na Construção da Inclusão-Acessibilidade nos parâmetros do Viveiro” e o Engenheiro Florestal e Supervisor do Projeto Renato Lorza com o tema “Tipos de vegetação, escolha de espécies” apresentou um mapa tátil do Estado de São Paulo, texturizado com vários elementos, cores e contornos, e de acordo com a distribuição da vegetação, dos recursos hídricos inclusive o Rio Paraíba do Sul.
Essa experimentação sensorial, tátil e visual tem estimulado a expectativa para a concretização e o manejo no viveiro adaptado, tanto pelos deficientes visuais quanto por todos os participantes do Projeto.
“O reconhecimento e Socialização do espaço do viveiro adaptado e estufa através da Maquete” com a Técnica em Meio Ambiente Juliana Motta também possibilitou a exploração em cada micro unidade muito bem miniaturizada. Ali, muitos refizeram os passos, identificaram as espécies tocando-as, o caminho de chegada e partida através das texturas, chegavam até mesmo a buscar na memória visual o local onde os colegas se colocavam, o local onde preparavam algum elemento para o viveiro.
Nesse espírito de criatividade foram sugerindo a marcação do local onde será o viveiro adaptado. Na sequência, a “Vivência da co-responsabilidade ambiental no espaço” com Antonio Carlos e Jose Monteiro, deficientes visuais, que de forma participativa e de acordo com suas possibilidades contaram como participam desse processo de construção.
O coordenador do CISAC, Ayrton Sergio Saleme, responsável pela “Comunicação do Projeto”, comentou emocionado sobre o fato de que as dificuldades têm sido bem menores na experimentação desta oficina que busca de forma integrada, participativa e reflexiva, atravessar os limites culturais e deixar fluir a consciência ambiental e desta consciência a construção conjunta.
Com projetos deste tipo, muitas serão as possibilidades desses atores sociais semearem o surgimento de um novo olhar, que independente do brilho, manterá a luz da existência com qualidade de vida inspirando o presente e servindo de guia para as gerações futuras.
Centro de Inclusão Socioambiental do Cego
Fones: (12) 3645-4474 Cel. 9178-9128
Ayrton Sergio Saleme

Fumo mata dez mil pessoas por ano!

sexta-feira, maio 29th, 2009

Fumo passivo mata 10.000 pessoas por ano*
Todos os dias, ao menos sete brasileiros que nunca fumaram na vida morrem por doenças decorrentes da exposição à fumaça do tabaco.**
A pesquisadora Valeska Figueiredo, do Inca, lamenta que estas “são mortes que poderiam ser facilmente evitadas. Isso mostra a necessidade de termos uma legislação mais rígida em relação ao cigarro”.
Ela acredita, inclusive, que o número de mortes provocadas pelo fumo passivo é ainda bem maior. Isto porque a pesquisa considera como fumantes passivos apenas os habitantes de áreas urbanas com mais de 35 anos, que nunca fumaram e que moram com pelo menos um fumante. Ficaram de fora do cálculo, portanto, aqueles expostos à fumaça no ambiente de trabalho e os moradores de áreas rurais bem como aqueles que pararam de fumar e continuaram expostos a fumaça de cigarros.
Além disso, o estudo inclui apenas as três principais causas de morte por tabagismo passivo: câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração (como infarto e angina) e acidentes vasculares cerebrais. Outros problemas, como síndrome da morte súbita da infância e doenças respiratórias crônicas, não foram computados.
Se considerarmos todos os grupos atingidos e todas as doenças potencialmente letais que o fumo passivo provoca, teremos seguramente mais de 10.000 mortes anuais ocasionadas por essa exposição à fumaça.
Dependendo da doença, as mortes de mulheres chegam a ser três vezes mais elevadas que as de homens e a faixa etária que registra maior ocorrência, tanto em homens quanto em mulheres, é de 65 anos ou mais.
Ou seja: estamos matando nossos pais e avós com este hábito terrível e piorando acentuadamente a saúde de nossas mães, esposas e filhas!
O tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte evitável do mundo, atrás só do tabagismo ativo e do consumo excessivo de álcool.
No Brasil, ainda cerca de 16% da população é fumante. Já foi 35% mas ainda é muito alto! O que mais precisa ser feito para que este número caia expressivamente? O prazer de fumar vale tremendo estrago na saúde pública, principalmente na saúde de nossos entes mais queridos?
*Baseado em notícia de DENISE MENCHEN da Folha de S.Paulo.
** Os dados constam no estudo “Mortalidade Atribuível ao Tabagismo Passivo na População Urbana do Brasil”, realizado por pesquisadores do Inca (Instituto Nacional de Câncer) e do Iesc/UFRJ (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Nossa língua, vai mal?

quarta-feira, maio 20th, 2009

Marcos Bagno Texto oferecido como material para reflexão e debate para o programa “Salto para o futuro”, transmitido pela TVE-Rio em 15 de junho de 2000, com participação do autor.

– Léo tem nove anos e é filho de um médico amigo meu. Um dia desses, depois do almoço, o menino disse assim ao pai:
– Já que você é médico, pode ver se tem alguma coisa errada na minha língua?
– Claro, filho. Mostra ela pra mim. Examinada a língua, não havia nenhum problema com ela. Foi a vez do pai perguntar: – Por que você achou que tinha alguma coisa errada?
– Porque hoje na televisão um moço com cara muito séria disse que “a língua do brasileiro vai muito mal”. Minha professora já tinha falado isso antes. Como eu sou brasileiro, achei que a minha devia estar doente também. Quando ele me perguntou o que dizer ao filho, respondi:
– Você deve dizer ao Léo que ele não tem problema nenhum. O moço da televisão e a professora é que estão com uma doença muito grave e altamente contagiosa.
– Ah, é? Que doença? – perguntou meu amigo, espantado.
– Preconceito lingüístico.
– Preconceito lingüístico? Isso existe? E quais são os sintomas?
– Achar que “brasileiro não sabe português”, que “português é muito difícil”, que “o pessoal sem instrução fala tudo errado”, acreditar que a língua portuguesa é apenas aquilo que está nas gramáticas, nos dicionários e nos livros didáticos…
– E não é?! – mais espantado ainda.
– Claro que não. Aquela é apenas uma das muitas variedades de língua portuguesa que existem, aliás uma variedade ultrapassada, que ninguém na verdade usa, nem mesmo os escritores de hoje, e que, justamente por isso, parece ser tão difícil.
– Eu nunca tinha parado para pensar que a língua pode ficar ultrapassada…
– E por que não? Afinal, tudo no mundo e na vida da gente está sempre mudando, não é? Com a língua é a mesma coisa. Um livro de medicina de 1900 não serve mais para você clinicar. Uma gramática de 1900 também não serve mais para explicar a língua. O problema é que até hoje essas gramáticas velhas é que são usadas nas escolas, só que com capa nova e desenhos coloridos, para disfarçar a idade.
– Mas aquele moço da televisão parece saber tão bem das coisas!
– Ele só diz o que outros gramáticos feito ele já disseram antes. Não é ciência, ele não apresenta nenhum avanço em termos de idéias sobre a língua, é só repetição de doutrinas antigas, que não têm mais nada a ver com a realidade de hoje. Se decidisse pesquisar a língua usada de fato pelos brasileiros, inclusive pelos escritores de hoje, ele ia levar um baita susto!
– Quer dizer que a língua do brasileiro não vai mal?
– Ela não vai nem bem nem mal. Ela apenas vai.
– Como assim?
– A língua segue seu rumo, sua evolução natural, como todas as demais instituições e manifestações da cultura e da civilização. E para haver evolução, tem que haver transformação e mudança. Gostem os gramáticos ou não.
– Puxa vida… – suspirou meu amigo. – É a primeira vez que escuto alguém falar assim dessas coisas.
– Não me espanto – eu disse. – A Gramática Tradicional, que é o conjunto das doutrinas que até hoje dominam o ensino da língua, tem mais de dois mil anos de existência, nasceu antes de Cristo, no mundo grego. Ela apareceu como uma tentativa de estudar o uso da língua feito pelos grandes escritores do passado. Ao escolher estudar a obra desses grandes escritores é que a Gramática Tradicional fez surgir o preconceito lingüístico que encontramos hoje em dia.
– Por quê?
– Porque, escolhendo estudar apenas a língua escrita, e ainda assim, escrita apenas pelos grandes escritores, a Gramática Tradicional deixou de fora todo o universo da língua falada, que é a língua primeira, primária, primordial, e também todos os demais usos da língua escrita, usos práticos, corriqueiros, diários que não buscam atingir uma perfeição artística.
– E qual foi a conseqüência disso, dessa escolha?
– A conseqüência é que, com o passar dos séculos, ficou cada vez mais forte a cobrança, por parte da escola, de que todo e qualquer cidadão, em toda e qualquer ocasião de uso da língua, obedeça às regras gramaticais empregadas pelos grandes escritores. Ora, isso é simplesmente impossível, além de ser também irracional. Para cada situação comunicativa, a pessoa tem que se servir de um estilo de língua, de uma modalidade de uso.
– Agora estou percebendo… – disse o pai do Léo. – Foi daí então que apareceu essa idéia do “erro de português”, não foi?
– Exatamente – confirmei.
– Todo e qualquer uso que escapasse daquelas poucas regras apresentadas pelas gramáticas tradicionais era considerado um “erro”, um “desvio”, uma “corrupção” da língua. – O que tradicionalmente se chama de “erro”, então, é apenas um uso diferente do que está previsto na gramática? – concluiu meu amigo.
– É isso mesmo – respondi. – Quando a gente analisa cientificamente esses supostos “erros”, descobre que todos eles têm uma lógica, uma razão de ser, obedecem a regras bem coerentes. Afinal, nada é por acaso. Em vez de acusar alguém de estar falando “errado”, é mais justo e democrático procurar conhecer a gramática da língua daquela pessoa, compreender suas regras, que são diferentes das regras tradicionais.
– Será que estou entendendo? Você pode me dar um exemplo? – pediu ele.
– Claro… Veja bem: quando alguém diz broco, grobo, chicrete onde a gramática tradicional exige a pronúncia bloco, globo, chiclete, essa pessoa não está falando assim porque decidiu “desobedecer” as regras tradicionais ou porque é tão “burra” e “atrasada” que não consegue falar “direito”. O que acontece é que, simplesmente, na gramática da variedade de língua falada por esse cidadão, não existem encontros consonantais com l, mas apenas com r. Nessa gramática, as regras de combinação dos fonemas, dos sons da língua, são diferentes. Além disso, essa pronúncia considerada errada está obedecendo, na verdade, a uma regra bem antiga da língua portuguesa, inclusive literária…
– Como assim?
– A palavra branco vem de um germânico blank; o nosso cravo vem do latim clavu; praga vem do latim plaga; fraco vem do latim flaccu… Como você pode ver, todas essas palavras, na sua origem, tinham um l, mas acabaram ganhando um r ao se incorporar na língua portuguesa.
– Quer dizer que quem diz broco, grobo, chicrete na verdade está simplesmente dando continuação a uma tendência antiga da língua… Puxa vida, que surpresa! E como fica a escola diante dessa história toda?
– No meu entender, a escola deve ensinar, sim, a chamada norma-padrão, mas não deve fazer isso desprezando, denegrindo, rebaixando as outras normas que existem na língua. O professor deve tomar conhecimento da pluralidade, da heterogeneidade característica de todas as línguas vivas e reconhecer que aquele tipo de língua que ele vai ensinar na escola é apenas uma das múltiplas possibilidades de combinação oferecidas pelo sistema da língua portuguesa. Uma variedade que goza de prestígio social mas que, lingüisticamente, não tem nada de melhor nem de mais bonito. Outras combinações também existem e são empregadas. Aliás, a chamada norma-padrão é extremamente minoritária, é empregada por um número muito reduzido de pessoas. As outras variedades, as variedades não-padrão, é que são, realmente, empregadas pela maior parte do nosso povo.
– É engraçado você dizer isso – retomou meu amigo -, porque quando eu era criança, na escola, eu sentia mesmo que aquelas regras da gramática não tinham nada a ver com a língua que eu falava em casa, na rua e até mesmo na escola, fora da sala de aula. Seria exagero dizer que a língua ensinada pelos professores é uma língua estrangeira?
– Tem muito especialista que diz isso mesmo, que a norma-padrão ensinada na escola é uma língua estrangeira, é uma segunda língua, com regras gramaticais muito diferentes da língua materna que a criança já traz de casa. Se o professor se der conta disso, se ele admitir que as coisas são assim, talvez ele possa assumir uma atitude diferente, menos preconceituosa em relação à língua que os alunos trazem de casa e à língua que ele vai ter de aprender na escola. Por sinal, essa é justamente a atitude nova proposta pelo Ministério da Educação nos seus Parâmetros Curriculares Nacionais. Na minha opinião, a escola não deve apenas ensinar a norma-padrão: deve também apresentar ao aluno o quadro verdadeiro da situação lingüística do país, apresentando exemplos de língua falada e escrita, formal e informal, rural e urbana, literária e não literária, culta e não-culta, e assim por diante, explicando as situações em que cada uma dessas modalidades pode ser usada e mostrando também o grau de prestígio ou não-prestígio social atribuído a cada uma delas.
– Puxa! A tarefa do professor vai ficar muito mais difícil! – comentou meu amigo.
– Pode ser, mas também vai ficar muito mais democrática, pluralista e humana – enfatizei. – Afinal, já ficou mais do que provado que o ensino tradicional, conservador, preconceituoso, não dá resultado nenhum. As pessoas saem da escola depois de onze anos de estudo sem conseguir escrever com tranqüilidade e segurança um texto qualquer de quinze linhas. A baixa auto-estima lingüística fica evidente nas declarações tão comuns de tanta gente inteligente que diz “eu não sei português”. Ora, se não soubesse, não teria produzido essa simples frase… A tarefa do professor será justamente elevar a auto-estima lingüística do futuro cidadão, mostrar a ele que ele já sabe português desde o berço, e que sua língua materna é tão valiosa quanto a língua que ele vai aprender na escola.

CARTA DE MARCOS BAGNO PARA A REVISTA VEJA 4 de novembro de 2001
A DUPLA PERSONALIDADE LINGÜÍSTICA DA MÍDIA IMPRESSA: